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Informe e Crítica

8 de mar. de 2011

Futebol, Competição e Corrupção em Rudo e Cursi


Futebol, Competição e Corrupção em Rudo e Cursi

Nildo Viana

O filme Rudo e Cursi, "Rude e Romântico", dirigido por Carlos Cuarón (EUA/México, 2008), conta a história de dois irmãos que tinham uma vida precária na zona rural e acabam sendo convidados por um empresário de jogadores para fazer testes em times de futebol profissional. Eles aceitam a acabam se tornando famosos jogadores.

Porém, o filme mostra muito mais que isso. A rivalidade entre os dois irmãos é marcada por apoio mútuo e a superação da condição social é realizada por dois indivíduos que carregam consigo problemas oriundos de sua formação, inclusive sua ingenuidade, o que existe no caso concreto de muitos jogadores de futebol, devido suas origens de classe e formação cultural. Sem ter uma maior compreensão dos problemas na carreira de um jogador e de que o dinheiro não é inesgotável, eles esbanjam (com drogas e jogos ou com carros e mulher) e acabam perdendo tudo.

Rudo demora mas acaba se tornando um goleiro de sucesso, sendo que busca o recorde de mais tempo sem levar gol, enquanto que Cursi chega à seleção mexicana, mas depois disso entra numa fase de declínio e deixa de ser o goleador que era. Além da competição entre os dois irmãos, observa-se a reprodução da sociedade competitiva, expresso na relação de Cursi com uma modelo, que tão logo ele cai em decadência, o troca por outro. O vício em jogo e depois em drogas de Rudo também marca sua decadência ao se endividar e não ter como pagar.

As cenas finais do filme mostram a desonestidade na competição, na proposta de corrupção, algo comum no futebol, num jogo decisivo entre os times de Rudo e Cursi, no qual o primeiro deveria levar gols e deixar o adversário ganhar em troca do dinheiro para pagar sua dívida e salvar sua vida. Um penalti no final da partida marca a definição e um erro de interpretação faz com que ambos percam, pois Cursi perde a chance de se recuperar e Rudo fica com a glória mas leva alguns tiros na perna, que é amputada, e abandona o futebol, bem como o irmão. Do sucesso ao fracasso, apesar disso se reencontram e cantam juntos.


O filme, por conseguinte, mostra problemas que ocorrem com inúmeros jogadores de futebol, pois é comum saírem do interior e das classes desprivilegiadas para conseguirem atuar em times profissionais. Muitos não conseguem muita coisa, e vivem como jogadores reservas, marginais, em pequenos times e com pequenos salários. Outros conseguem relativo sucesso, mas ao não saber trabalhar com o dinheiro que ganham, logo entram em decadência financeira. Muitos, na onda do sucesso, atraem mulheres belas e oportunistas, etc. No fundo, é a sociabilidade capitalista que é mostrada no filme, com suas especificidades no caso da profissão de jogador de futebol. O filme mostra, também, o mundo competitivo e mercantil existente, o processo de corrupção no futebol e que todos visam ganhar em torno do jogador (no caso do filme, os técnicos e empresários). A corrupção no futebol profissional fica explícita, sendo mais uma manifestação dessa sociabilidade marcada pela competição, mercantilização e burocratização, onde o valor dominante que aponta para ganhar supera os demais.

Enfim, a história de Rudo e Cursi é a história de dois jogadores que se encaixaria bem na vida de milhares de outros jogadores de futebol profissional e revelam faces da sociabilidade capitalista e da mentalidade burguesa, na qual os valores dominantes reinam absoluto.

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