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Informe e Crítica

18 de nov. de 2018

Momo e a crítica ao capitalismo



Momo e a crítica ao capitalismo
Nildo Viana

O filme Momo e o Senhor do Tempo (Johannes Schaaf, Alemanha, 1986), baseada na obra literária infantil homônima, escrita por um dos melhores nomes da literatura infantil, Michael Ende (autor de História sem Fim e outras excelentes obras), trata de uma questão fundamental: o tempo. O tempo que os seres humanos perdem em sua vida e pensam que ganham e não percebem isso, pois é “como uma música, que já não ouvimos porque está sempre tocando”. A sociedade capitalista é fundada no domínio do tempo. Ao contrário de qualquer outra sociedade, o tempo assume um significado fundamental e pode ser resumido na frase, que aparece no filme, como não poderia deixar de ser, “tempo é dinheiro”. A produção de bens materiais (nesse caso específico, mercadorias) é realizada através da produção e extração de mais-valor, que é uma forma específica de exploração baseada no domínio do tempo no processo de trabalho.





O filme tematiza a questão do tempo sob forma metafórica, pois são os “senhores de cinza” que buscam roubar o tempo dos indivíduos. Uma das cenas mais importantes é quando um senhor de cinza faz o cálculo do uso do tempo do barbeiro, colocando o quanto ele gasta tempo com “coisas inúteis” (cuidado da mãe, levar flores para uma mulher, ir ao cinema, etc.). Assim, o filme mostra, metaforicamente, a desumanização e a destruição dos indivíduos por causa do controle do tempo realizado pelo capital (os senhores de cinza) e que as pessoas “não enxergam quem está mandando em seu mundo”. O tempo se torna um problema e seu uso se torna desumanizado e a serviço do capital. Por isso é “tempo roubado”. E outros aspectos derivados disso aparece: consumismo, competição, baixa qualidade de programas televisivos, etc.

O filme também abre espaço para se pensar questões existenciais, opondo um mundo de solidariedade em contraposição ao mundo da busca incessante de “tempo” (lucro). Obviamente que isso tudo aparece metaforicamente e por isso quem fica apenas no plano do universo ficcional verá apenas algo pouco compreensível como os senhores cinzentos, a tartaruga Kassiopeia, Casa de Lugar Nenhum, Mestre Hora, charutos, bibi-girls, flor-hora, etc. e uma aventura de uma menina contra os vilões que querem dominar o tempo. Sem dúvida, é um filme que traz uma mensagem fundamental e que expressa elementos que estão presentes no livro no qual é baseado. Essa adaptação cinematográfica não deve ser comparada com a obra literária, pois são duas formas de arte diferentes e dizer que o livro tem mais riqueza é um truísmo, já que se fosse filmado o conjunto do que está nele seria produzir um filme de dezenas de horas. E nenhum cineasta faria, pois não teria “tempo” (dinheiro) e nem o público para assistir uma obra assim. O filme consegue trazer elementos essenciais da obra literária e, mesmo que pudesse ter trazido alguns elementos a mais, repassou o fundamental da mensagem que estava na obra literária e produziu uma excelente obra cinematográfica. Um filme humanista e axionômico, como poucos, e assim mostra sob forma ficcional uma questão fundamental de nossa época.

Assista ao filme:




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