Momo e
a crítica ao capitalismo
Nildo Viana
O filme Momo e o
Senhor do Tempo (Johannes Schaaf, Alemanha, 1986), baseada na obra literária
infantil homônima, escrita por um dos melhores nomes da literatura infantil,
Michael Ende (autor de História sem Fim
e outras excelentes obras), trata de uma questão fundamental: o tempo. O tempo que
os seres humanos perdem em sua vida e pensam que ganham e não percebem isso,
pois é “como uma música, que já não ouvimos porque está sempre tocando”. A
sociedade capitalista é fundada no domínio do tempo. Ao contrário de qualquer
outra sociedade, o tempo assume um significado fundamental e pode ser resumido
na frase, que aparece no filme, como não poderia deixar de ser, “tempo é
dinheiro”. A produção de bens materiais (nesse caso específico, mercadorias) é
realizada através da produção e extração de mais-valor, que é uma forma específica
de exploração baseada no domínio do tempo no processo de trabalho.
O filme tematiza a questão do tempo sob forma metafórica,
pois são os “senhores de cinza” que buscam roubar o tempo dos indivíduos. Uma
das cenas mais importantes é quando um senhor de cinza faz o cálculo do uso do
tempo do barbeiro, colocando o quanto ele gasta tempo com “coisas inúteis”
(cuidado da mãe, levar flores para uma mulher, ir ao cinema, etc.). Assim, o
filme mostra, metaforicamente, a desumanização e a destruição dos indivíduos
por causa do controle do tempo realizado pelo capital (os senhores de cinza) e
que as pessoas “não enxergam quem está mandando em seu mundo”. O tempo se torna
um problema e seu uso se torna desumanizado e a serviço do capital. Por isso é “tempo
roubado”. E outros aspectos derivados disso aparece: consumismo, competição, baixa
qualidade de programas televisivos, etc.
O filme também abre espaço para se pensar questões
existenciais, opondo um mundo de solidariedade em contraposição ao mundo da
busca incessante de “tempo” (lucro). Obviamente que isso tudo aparece metaforicamente
e por isso quem fica apenas no plano do universo ficcional verá apenas algo
pouco compreensível como os senhores cinzentos, a tartaruga Kassiopeia, Casa de
Lugar Nenhum, Mestre Hora, charutos, bibi-girls, flor-hora, etc. e uma aventura de uma
menina contra os vilões que querem dominar o tempo. Sem dúvida, é um filme que
traz uma mensagem fundamental e que expressa elementos que estão presentes no
livro no qual é baseado. Essa adaptação cinematográfica não deve ser comparada com
a obra literária, pois são duas formas de arte diferentes e dizer que o livro
tem mais riqueza é um truísmo, já que se fosse filmado o conjunto do que está
nele seria produzir um filme de dezenas de horas. E nenhum cineasta faria, pois
não teria “tempo” (dinheiro) e nem o público para assistir uma obra assim. O filme
consegue trazer elementos essenciais da obra literária e, mesmo que pudesse ter
trazido alguns elementos a mais, repassou o fundamental da mensagem que estava
na obra literária e produziu uma excelente obra cinematográfica. Um filme
humanista e axionômico, como poucos, e assim mostra sob forma ficcional uma questão
fundamental de nossa época.
Assista ao filme:
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