Nildo Viana
O filme "A Grande Ilusão"/All the King's Men* (Steven Zaillian, Alemanha/EUA, 2006) narra uma história que é bastante comum na política institucional cotidiana. O filme é baseado no romance de Robert Penn Warren, All the King's Men*, publicado em 1946, o que mostra o "eterno retorno do mesmo na política institucional" [1]. Este filme é um remake de A Grande Ilusão (Robert Rossen, EUA, 1949), que já tinha ganhado uma refilmagem em 1957 (Sidney Lumet, EUA, 1957).
O filme conta a história de Willie Stark, um interiorano de Louisiana, Estado norte-americano predominantemente rural nos anos 1940, que questiona as autoridades locais, acusando-as de corrupção e dos perigos de uma reforma numa escola de caráter duvidoso. Quando a escola desaba e mata algumas crianças, Willie Stark chama a atenção e logo consegue popularidade. Em breve ele é jogado nas eleições, quando um dos candidatos manipula para que ele lançe sua candidatura e retire votos do adversário, mais forte junto ao "caipiras" e pequenos fazendeiros. Nesse processo, um jornalista se interessa pelos discursos a favor da honestidade de Willie Stark e faz matérias sobre ele, tornando-o conhecido nas grandes cidades. Ao descobrir a manipulação, Stark mantém sua candidatura de forma independente e alcança sucesso eleitoral, sendo eleito governador. Passa a falar aos "caipiras" como ele com um discurso eleitoral [2] para agradar esse público. Porém, suas atitudes começam a mudar, desde sua relação familiar até políticas. Stark acaba usando os mesmos procedimentos daqueles que ele criticava, entre elas abuso do poder, chantagens, etc. A sua concepção é a de que do mal emerge o bem. Nesse contexto, o jornalista e a família Staton acaba sendo envolvida nas tramas políticas do novo governador e a resolução da trama termina em morte.
O romance que inspirou o primeiro filme e os demais, se inspira na ascensão e queda de Huey Pierce Long, conhecido com o "infame Kingfish", que ocupou o cargo de senador e governador de Louisiana. O filme de 1949 mostra com mais clareza a corrupção de Willie Stark do que a versão aqui comentada, de 2006 (abaixo trailer do filme).
No fundo, o que o filme faz é mostrar "a politica como ela é", para parafrasear Nélson Rodrigues. O processo de corrupção, ambição, luta pelo poder e todos os elementos constituintes da luta política institucional, estão presentes e revelam aquilo que muitos não percebem ao apenas ouvir os discursos ou ver o que é repassado pelos meios oligopolistas de comunicação. Também mostra, o que não é novidade para nenhum brasileiro atento, que os indívíduos de origem humilde se corrompem com a mesma facilidade que qualquer outro. Como já dizia Robert Michels [3], os partidos políticos são criadores de novos burocratas e políticos profissionais, e recruta grande parte deles nas classes exploradas. Assim, o filme é uma verdadeira aula do que é a política institucional, o processo eleitoral e os governantes.
Notas:
* "Todos os Homens do Rei"
[1] - VIANA, Nildo. Eleições e Perspectivas: Eterno Retorno do Mesmo ou Transformação Social?. Revista Espaço Acadêmico (UEM), v. 10, p. 55-63, 2010.
[2] - VIANA, Nildo. Do Discurso Eleitoral ao Discurso Governamental. In: http://informecritica.blogspot.com/2011/02/do-discurso-eleitoral-ao-discurso.html Acessado em: 04/02/2011.
[3] - MICHELS, Robert. Sociologia dos Partidos Políticos. Brasília, UnB, 1981.
Posts Relacionados:
A Utopia no Universo Fictício de Léo Joannon
Sobre Política e Poder
Nenhum comentário:
Postar um comentário