Rádio Germinal

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Informe e Crítica

31 de ago. de 2009

E o Cinema Brasileiro?














E o Cinema Brasileiro?

Nildo Viana

É possível dizer que o cinema brasileiro é igual a um certo personagem de programa humorístico, Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro, no qual fica evidente a discrepância entre o Brasil e países imperialistas, que, evidentemente, não fica claro que a determinção disso é resultado da exploração internacional e da colonização cultural que lhe acompanha. Porém, o cinema brasileiro acaba sendo uma cópia mal feita do cinema estrangeiro, contendo algumas peculiaridades, tal como uma excessiva reprodução da realidade brasileira ou cultura nacional ao invés de trabalhar temas mais universais e fundamentais, com as devidas exceções.

Porém, se o cinema brasileiro possui uma baixa qualidade, isto não é geral, existem as exceções. Os filmes da época da Vera Cruz, a Holywood brasileira, nos anos 1950, produziu algumas obras de destaque, como Apassionata, Fernando de Barros (Brasil, 1952); Tico-Tico no Fubá, Adolfo Celi (Brasil, 1952); O Cangaceiro, Lima Barreto (Brasil, 1953), entre outros, que é uma produção que consistiu em uma sensível melhora da produção fílmica nacional, preso na chamada "chanchada" e com sérios problemas formais, além de temáticas e universos ficcionais pobres. Os filmes da Vera Cruz eram melhores produzidos e apesar de fazer uma mescla entre cópia das produções holywoodianas do ponto de vista formal e temas brasileiros no que se refere ao conteúdo, realizou produções com temáticas mais importantes e alguns avanços formais.

É possível citar várias outras obras cinematográficas, como o cinema marginal e o cinema novo, mas, no entanto, a produção fílmica brasileira sempre foi limitada. Claro que a avaliação do cinema brasieiro é diferente, dependendo de qual perspectiva ele é analisado, e por isso é possível dizer que os filmes de Zé do Caixão, por exemplo, são excepcionais e não foram devidamente reconhecidos, o que é uma supervaloração de algo que realmente não tem tanto valor.

Apesar disso, alguns filmes merecem citação. Este é o caso de São Paulo Sociedade Anônima, Luiz Sérgio Person (Brasil, 1965) é um dos melhores filmes produzidos no Brasil, e também é possível citar Ossos, Amor e Papagaio, Carlos Barros e César Memolo (Brasil, 1957), entre outros destaques do cinema Brasileiro. O primeiro é um dos mais profundos filmes brasileiros, colocando o dilema de um personagem preso nas malhas da vida cotidiana marcada pela alienação e o segundo é uma adaptação do conto "A Nova Califórnia", de Lima Barreto, uma comédia que mostra uma sociedade corrompida pelo dinheiro (ouro, no caso). Este ao contrário da outra adaptação (seria melhor dizer, deformação) de obra de Lima Barreto, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, que virou Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, Paulo Thiago (Brasil, 1998), que transformou uma obra literária de crítica ao nacionalismo em uma comédia nacionalista, retirando seu caráter crítico e lhe dando um caráter apologético.

Enfim, nem só de filmes de baixa qualidade vive a produção cinematográfica brasileira, embora haja sua predominância. Atualmente, houve um avanço formal na produção fílmica, derivado do processo de mutação do capital cinematográfico brasileiro e das mudanças tecnológicas, com a hegemonia da Globo Filmes, que, no entanto, não significou nenhum grande avanço no conteúdo, significando apenas uma melhora parcial, meramente formal. Sem dúvida, também há exceções na contemporaneidade, tal como os filmes de Heitor Dhalia, O Cheiro do Ralo (Brasil, 2007) e Nina (Brasil, 2004). Outras obras mais recentes parecem colocar a possibilidade de avanço no cinema brasileiro, em matéria de qualidade e quantidade. Resta, então, esperar e conferir.


Abaixo, trecho de São Paulo Sociedade Anônima.

18 de ago. de 2009

Livro A Concepção Materialista da História do Cinema


























VIANA, Nildo. A Concepção Materialista da História do Cinema. Porto Alegre, Asterisco, 2009.



TEXTO DA ORELHA:

A maioria das obras de história do cinema possui limites que precisam ser superados, tal como seu caráter descritivo, que consiste em elencar nome de filmes, diretores e outros detalhes, sem maior aprofundamento e geralmente tendo por base uma ideologia cinematográfica. A historiografia tradicional do cinema também é descritiva e pouco contribui para um entendimento das mutações do processo de produção dos filmes e dos conteúdos veiculados por eles, tal como a abordagem formalista, que é anistórica. Os poucos estudos influenciados pelo marxismo sobre o cinema padecem de problemas metodológicos e teóricos devido a influência da teoria do reflexo de Lênin e da estética realista derivada dela. Neste contexto, torna-se necessário discutir as bases teórico-metodológicas para uma história do cinema que ultrapasse a mera descrição, o formalismo e os demais problemas interpretativos. O materialismo histórico fornece o método e teoria necessários para superar tais limites. As categorias de totalidade e determinação fundamental e os conceitos de capitalismo, luta de classes, ideologia, entre outros, são a chave para a produção de uma reconstituição histórica do cinema tendo por base o materialismo histórico. A presente obra discute a relação entre história e cinema, apresentando uma crítica da historiografia do cinema e apresentando as bases teórico-metodológicas para uma história social do cinema e exemplifica este procedimento analisando o expressionismo cinematográfico alemão.

Para ler o prefácio de Jean Isídio dos Santos, clique aqui.